Verde, maduro e podre
Se olharmos de perto a mãe natureza, veremos que o processo vital envolve conflito. Os animais estão a todo tempo em alerta, pois se num momento são predadores, num próximo podem ser presas.
Até mesmo no reino vegetal, as árvores estão em constante luta por um pouco de sol, sua fonte de alimento, e um indivíduo mais alto cria sombras para que outros mais baixos não tenham acesso a ele. É o ciclo da vida: a luta pela sobrevivência!
Talvez uma das coisas que mais nos causam horror no mundo natural é a violência relacionada tanto ao início quanto ao fim da vida.
Pois os principais alvos dos predadores são os indivíduos jovens e aqueles velhos.
Ambos estão numa condição desvantajosa na competição. Animais jovens precisam de seus pais para se proteger dos perigos. Já aqueles mais velhos simplesmente estão sem energia ou saúde para tanto, e viram banquete…
Tendemos a interpretar a vida humana com certa ingenuidade, como se essa luta não nos atingisse.
Afinal, estamos longe das selvas há muitos milênios, mas a verdade é que esse conflito também está presente em nós.
Por um lado, lutamos com nosso corpo na tentativa de manter o vigor ao longo da senescência. A ciência e a medicina têm sido nossas aliadas nesse ingrato embate com a velhice e a morte.
Muitas vezes, porém, adoecemos exatamente por causa do consumo desenfreado de remédios e terapias de longevidade.
Por outro lado, existe um conflito (nem tão) velado entre as gerações com fins à manutenção do poder da vida. O pai quer sempre ser o chefe, mas o filho está de olho no trono.
A mãe quer sempre ser a mais bela, e qual não é seu terror íntimo quando percebe na filha os primeiros sinais das mudanças hormonais?
Esse conflito entre gerações é natural.
Faz parte da manutenção e circulação da vida. O problema advém quando esse conflito não é reconhecido por nós e acaba reprimido de nossas consciências.
E como disse o psiquiatra Carl G. Jung, “o maior pecado é a inconsciência”.
Adecadência do corpo impõe uma nova cadência no viver. O ritmo tem que ser outro. Nossa mente pode até dizer que conseguimos atravessar a rua com a rapidez de sempre, mas cuidado, o corpo não responde como esperado…e o carro pode te pegar!
Da mesma forma, a sexualidade, se num primeiro momento é reprodutiva (fazer muitas vezes na semana, várias vezes com o parceiro, ou ter inumeráveis experiências sexuais), com a maturidade pode ser entendida como recreativa. O estilo, a frequência, a velocidade são outros. Ou pelo menos deveriam ser.
Nosso corpo irá envelhecer. O leão ficará banguela. A rainha será deposta.
Isso é trágico? Tão trágico como é a vida: verde, maduro e podre perpassam tudo aquilo que vive. E tudo aquilo que vive… se transforma!